Para estar verdadeiramente presente nesta dança do amor, o homem precisa de transformar o seu comportamento habitual. Depois de reencontrar a sua força yang – o seu pólo essencial –, deve abrir-se ao aspeto feminino, mantendo-se ancorado na sua energia masculina.
O que significa isto, concretamente?
Durante séculos, cultivou-se a crença de que o "verdadeiro homem" é aquele que seduz todas as mulheres com facilidade e transita de conquista em conquista. Este modelo perpetua uma relação de predador e presa, onde a mulher é vista como um troféu. A atenção do homem centra-se apenas em seguir um guião de “bom amante”, escondendo-se por trás de uma fachada de durão, evitando encarar o medo de se mostrar vulnerável perante o outro.
Contudo, ser homem – um verdadeiro guerreiro pacífico – não é desempenhar o papel do durão, mas sim reconhecer as suas fragilidades, aceitar os seus medos, recuperar a sua força interior sem os projectar no outro, saber lidar com frustrações e comprometer-se com a vida. Perseverar consigo próprio é um verdadeiro ato heróico.
O célebre lema inscrito no Templo de Delfos – “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses” – está na base de toda a transformação profunda. Esse caminho começa com uma descida ao interior, com um confronto com a própria sombra – aquela zona obscura de nós mesmos que habitualmente evitamos encarar.
A sombra representa tudo aquilo que não corresponde ao ideal que temos de nós próprios: fraquezas, medos, impulsos, traços que consideramos indesejáveis ou vergonhosos. Estes aspetos, reprimidos, acabam por habitar o inconsciente, afetando silenciosamente a nossa forma de estar no mundo.
Não há nada de assustador em enfrentá-las. Pelo contrário, ignorá-las permite que nos dominem inconscientemente, levando-nos a projectá-las nos outros – como se fossem eles os culpados dos nossos males.
A sociedade atual, ainda fortemente marcada por valores patriarcais, empurra-nos para a procura frenética da perfeição: ter um emprego de prestígio, ser jovem, belo, saudável, culto, forte, sensível e sexualmente irrepreensível. Como a maioria de nós não consegue corresponder a todas estas exigências, nascem os complexos – que tentamos camuflar como fraquezas, quando são apenas partes legítimas da condição humana.
Mas não são as sombras que nos impedem de viver plenamente – são os esforços que fazemos para as esconder. É aí que se criam bloqueios e desastres pessoais.
Estes complexos filtram a nossa perceção da vida. Por estarmos tão centrados na nossa própria dor, deixamos de ver a dos outros. Por exemplo, alguém que se considera demasiado baixo ou corpulento poderá acreditar que todas as pessoas altas e magras são felizes – o que, claro, não corresponde à verdade.
Os complexos surgem sob diversas formas:
Físicos: demasiado alto, demasiado baixo, feio, narigudo...
Psicológicos: sentir-se demasiado emotivo, ou nutrir desejos “inconfessáveis”.
Sociais: considerar que o nosso trabalho não tem valor ou que não nos encaixamos no grupo.
Culturais: achar que não somos suficientemente cultos e idealizar os intelectuais.
Sexuais: sentir que o pénis é pequeno, ter dificuldades de ereção ou ejaculação precoce.
Todos estes aspetos fazem parte da nossa sombra.
Enfrentá-los é simples, mas não é fácil. A única solução verdadeira é: ACEITÁ-LOS.
Isto significa viver como se essas sombras fossem visíveis para todos, e mudar a forma como as vemos. Significa trazer à luz aquilo que sempre julgámos ser uma fraqueza – e descobrir aí, muitas vezes, um grande poder.
Algumas psicoterapias, workshops e sessões de massagem tântrica autêntica, como as que oferecemos no nosso centro Lila, no Porto, podem ajudar neste processo. Estas práticas apoiam a revelação da sombra, o acolhimento dos excessos físicos e emocionais, e contribuem para uma evolução harmoniosa no caminho da vida.
O medo que muitos homens sentem em relação às mulheres manifesta-se de forma subtil: medo de não ser suficientemente alto, de falhar sexualmente, de não satisfazer, de ser dominado, de se tornar dependente.
É essencial que o homem reconheça que a sua primeira relação de amor foi com a mãe – o ser com quem esteve fisicamente unido e de quem dependia totalmente. O desenvolvimento saudável implica, mais tarde, um processo de separação psicológica e emocional dessa matriz.
O arquétipo da mãe permanece fortemente presente no imaginário masculino e molda, inconscientemente, a forma como os homens se relacionam com as mulheres. A relação amorosa e erótica está muitas vezes carregada de projecções, expectativas e fantasias originadas nesta figura primordial.
As neurociências confirmam que os mesmos circuitos e neurotransmissores envolvidos na ligação mãe-filho estão também presentes nas relações românticas. Ou seja, o desejo e o apego despertam automaticamente memórias emocionais dessa ligação primária.
É por isso essencial que o homem tome consciência da sua relação com a figura materna – biológica, social, emocional – e perceba como esta influência se manifesta nas suas ligações atuais. Muitas vezes, a mulher com quem se relaciona é vista através das lentes da mãe: ora idealizada, ora temida, ora desejada, ora rejeitada.
Quando o homem está preso a esse arquétipo, duas atitudes extremas podem surgir: ou transforma a mulher numa deusa a ser adorada e perde a sua individualidade, ou se anula, tornando-se submisso, infantilizado. Em ambos os casos, a relação real fica comprometida.
O caminho do meio é o mais difícil, mas o mais verdadeiro: o homem encontra-se consigo mesmo na relação, vê a mulher tal como ela é – humana, sensível, com os seus medos, desejos e limites.
Essa visão só é possível se o homem deixar de estar aprisionado nos seus próprios complexos e mecanismos inconscientes, se tiver a coragem de os enfrentar e integrar.
Não são as mulheres que “castram” os homens. São os próprios homens que se castram através das suas projeções. A mulher não é a causa – é o espelho.
Felizmente, há em cada homem um arquétipo positivo que pode ser activado: o herói interior, o cavaleiro, aquele que enfrenta os seus medos, combate os seus dragões internos e avança com coragem para uma nova forma de se relacionar – mais livre, consciente e amorosa.
Nos próximos artigos, exploraremos em detalhe este arquétipo do herói e os caminhos para sair da matriz arquetípica que nos aprisiona.