O acto erótico, na sua essência mais pura, é a expressão ardente do anseio do ser em ultrapassar os seus próprios limites — em escapar aos contornos do ego para se fundir com aquilo que é real, perfeito e divino, tanto em si como no outro. Tal como na verdadeira massagem tântrica, que parte do corpo, atravessa os sentidos e a energia erótica, e vai mais além: até à alma.
Em termos simples, segue os mesmos passos: sexo, amor, oração. Mas o que acontece, na verdade, ao longo desse caminho? O ser humano procura singularidade; procura libertar-se das suas limitações e, nesse processo de auto-transcendência, fá-lo com o auxílio de outrem — o terapeuta, o amante, o espelho. A proximidade física e a atracção são, no início, uma tentativa rudimentar de evasão do próprio eu — uma fuga breve, talvez falhada, porque não se pode, fisicamente, escapar de si próprio.
Esta tentativa de união, através do acto sexual, tem uma duração efémera. Só quando se alcança o outro a um nível anímico se dá a verdadeira fuga do corpo — pela alma que vê e sente o outro além da matéria. Aí dá-se o primeiro descondicionamento: tornamo-nos independentes do corpo do outro, porque tocámos a sua essência.
Duas pessoas que apenas se amam fisicamente não conseguem suportar a separação, pois estão ainda presas à carne. Mas quando o amor atinge o nível da alma, a ausência física já não separa — o vínculo permanece num plano mais elevado, subtil e duradouro. A conexão passou a habitar uma dimensão onde o tempo e o espaço já não imperam.
Vivemos numa pressa constante, carregando connosco memórias apressadas — vitórias, derrotas, amores passados. Mas basta recordarmos um verdadeiro amor para que tudo se ilumine de forma especial, com uma luz enigmática que nos envolve.
Se alguma vez experimentaste um amor profundo, não duvidas que te sentiste mais belo, mais forte, como se te tivesse sido confiada uma missão sagrada. Ao atravessar a planície dos desejos, libertando-se do egoísmo, esse amor tornou-se mais sereno, mais consciente, mais luminoso.
O amor entre dois seres humanos não se resume à união sexual — que, embora necessária, é apenas um fragmento deste sentimento vasto. Para a maioria, “amor” significa o toque físico. Mas o verdadeiro amor, tal como descrito pelos sábios, é um processo de aprofundamento, de cristalização, de edificação interior, onde a comunicação afectiva e empática floresce num encontro de almas.
No início, talvez seja apenas uma atracção inexplicável. Mas, com o tempo, percebemos que esse ser nos completa, nos preenche em todos os planos, fazendo emergir o melhor de nós. Através da transfiguração amorosa, pode dar-se uma fusão total — física, emocional, mental e espiritual — que se torna fonte de uma felicidade autêntica, intensa e duradoura.
O amor é construtivo, é criativo. Une, eleva, regenera. Transforma o vazio em plenitude, o ceticismo em fé, a solidão em comunhão. As maiores obras de arte, os mais belos poemas, as melodias que nos comovem — todas têm, na sua essência invisível, o amor. Tal como nós.
O amor é real. Mais real do que qualquer conceito. Não é uma ideia; é uma presença, uma magia em movimento. Se até uma folha de erva é expressão de amor, o facto de alguém, algures, nos amar — é imensamente mais precioso. Porque viemos ao mundo, acima de tudo, para amar — e para oferecer esse amor, antes de mais, a Deus.
Poucos percebem que o amor é o que mais facilmente transforma a vida. É o critério supremo de avaliação de tudo. Quando partilhado plenamente, em todas as suas matizes, torna-se o verdadeiro destino da alma.
Amar é a forma mais simples de viver — e, paradoxalmente, a mais elevada. Não é preciso esforço: basta estar presente, com o coração aberto. Todos sentimos a necessidade de amar, mesmo antes de escolhermos o alvo desse amor. E esse amor puro, avassalador, cedo ou tarde será correspondido.
É o amor que nos impulsiona a procurar o outro, a dar forma aos nossos sonhos. É ele que acende em nós a sede secreta de nos conhecermos profundamente.
Se acreditamos ter deixado de amar, talvez nunca tenhamos amado de verdade — ou simplesmente esquecemos como olhar para dentro, onde o amor ainda arde. Pois o amor sabe que a mente é volátil, mas ele, o amor, permanece. Sempre.
O amor não impõe, não domina, não exige. O amor simplesmente dá. É a simplicidade divina em acto. É o reflexo, na Terra, do amor celeste — sem fronteiras, sem limites. Se tivesse tempo, seria um instante contínuo. Se tivesse espaço, habitaria o nosso interior — pois somos, de facto, a síntese de tudo o que amamos.
Onde houver amor, ele está. E se existe agora, pode existir para sempre.
O verdadeiro amor é um sentimento divino e inefável. Quando vivido plenamente, expande o ser e a consciência — do finito ao infinito. Une, eleva, transforma.
O amor é a antítese do egoísmo. É o desejo puro e desinteressado de entregar o melhor de si ao outro — seja uma pessoa, um ideal, uma causa. As suas formas são múltiplas, pois cada ser humano é único, e o amor manifesta-se consoante a alma que o vive.
O nascimento, crescimento e persistência deste sentimento — eufórico, divino, beatífico — estão intimamente ligados ao florescimento da personalidade. Cada amor é, pois, também um caminho de revelação.